VINHO DO PRADO
A GRANJA DO PRADO
João José le Cocq adquiriu as terras do Prado em 1837 por 5.147&560 réis, ao mesmo tempo comprou a herdade da Coutada do Alcogulo, por 3.497&600 réis e a Coutada de Nisa, por 1320&200 réis.
Segundo as fontes consultadas, O Prado era então um «terreno muito agro e mau na sua quase totalidade», inscrito nos bens realengos de que a coroa entendeu alienar-se. Depois das obras de arroteamento, surriba, captação de águas e irrigação, este novo proprietário resolveu aplicar uma cultura intensiva e diversificada no vale e na encosta norte, enquanto que na encosta sul plantou um frondoso bosque, com variadas espécies exóticas, destinado a parque de recreio.
João António Gordo, para escrever a biografia da família le Cocq (Os Le Cocq em Portugal, separata do jornal "O Castelovidense" 1942), teve acesso à correspondência estabelecida entre João José e a sua esposa, que até meados da centúria de oitocentos se terá mantido em Lisboa. Assim, segundo esta fonte, é relatado que no Prado foi utilizada pela primeira vez em solo nacional uma broca artesiana para captação de água e ainda que nesta quinta «se instalou o primeiro lagar mecânico para fabrico do azeite e se bebeu com delícia o primeiro vinho português do tipo de Champagne». A mesma fonte acrescenta que este espumante «saboreou-o D. Fernando, artista e rei muito cordial que, em 1852, mandava agradecer ao lavrador do Prado, pelo seu camarista o barão da Foz algumas garrafas que o ilustre vinhateiro lhe mandara de presente».
Numa outra fonte consultada, baseada num apontamento de 1851, sabemos que em relação à vinha João José conseguia altos índices de produção «escolhendo prèviamente uma por uma as espécies melhores entre as indígenas e procurando as de maior renome entre as exóticas, está-lhe produzindo já hoje, num solo em que há oito ou nove anos nem as cabras se demoravam, mais de dois mil almudes de vinho (mais de mil e quinhentas arrôbas), não de um vinho qualquer, mas todo generoso». O documento acrescenta que: «Cada uma das variedades é cultivada, vindimada e prensada em separado; e logo, já misturando, já combinando, ou já fabricando à parte e com tôda a ciência, resulta que sempre que o proprietário tem bem provida a sua adega de excelente Pôrto, Madeira, Jerez, Malaga e de um vinho gasoso muito semelhante ao Champanhe, acreditado em Lisboa com o nome especial de Vinho do Prado.
Para a sua preparação em geral usa o proprietário diferentes máquinas de sua invenção, e pisa e espreme com facilidade, com economia e com todo o asseio. Tem também uma máquina para destilar aguardente e, finalmente, outras tem para tôdas as operações dêste género».
O florescimento da quinta do Prado terá atingido tal fama que, a 4 de Abril de 1853, o Ministério das Obras Públicas propunha uma "convenção" a João José le Cocq, com vista a que o Prado se tornasse numa "quinta de ensino". Porém, não obstante uma troca prolongada de correspondência entre as partes, não se chegou a acordo, mas nem por isso o Prado deixou de ser «durante muitos anos, uma autêntica escola prática de agricultura, onde os proprietários da região e seus operários muito aprenderam e aonde também ricos senhores de grandes terras vinham, de quando em quando, aconselhar-se com o ilustre mestre de agronomia».
"Mas os tempos mudam...
Onde vai o louro vinho espumante, que também o senhor D. Pedro V
sorveu na granja do Prado, oferecendo com sua tão ilaqueante bondade,
ao fabricante, o colar da Ordem de Cristo!"
João António Gordo
"Os Le Cocq em Portugal", 1942.
A GARRAFA E A ENGARRAFADEIRA
A única garrafa que existe no depósito da Secção de Arqueologia Municipal foi oferecida pelo particular Eufrásio de Alegria Grego, no ano de 1981. Trata-se de uma garrafa de vidro verde, espessa, de secção oval, com um rectângulo saliente para o rótulo a meio do bojo e, do lado oposto, uma âncora ladeada por duas meias-luas e duas estrelas, sobre a palavra KOUMYS. Pelo Catálogo da Secção Agrícola da Exposição Industrial Portugueza, do ano de 1888, sabemos que 12 destas garrafas de vinho espumoso, da colheita de 1886, custavam 9&000 réis.
A engarrafadeira, de marca Barnett & Fosters, patent London, pertence aos actuais proprietários do Prado, sendo uma das relíquias da actual adega, que o rendeiro João José C. Santo preserva e tem orgulho em mostrar..